15/04/2021 – Por Renato Gallo.
Não podemos negar que estamos vivendo atualmente, no Brasil, uma crise de valores na sociedade.
Estamos falando de valores morais, educacionais, sociais e políticos. Valores humanos, enfim. Há, inclusive, uma crise de valores na nossa Igreja Católica, e essa crise reflete-se em presbíteros sem sintonia com a família, desumanizados, refletindo, talvez, até mesmo uma angústia vocacional.
E isso não ocorre apenas no Brasil. Há uma carência no mundo atual da dignidade, do respeito, da tolerância, da honradez, da honestidade, da generosidade, da caridade, e de outros valores fundamentais para uma vida saudável em sociedade.
Está ocorrendo uma falência dos valores tradicionais, que de uma forma silenciosa e sem que haja reação, vem assolando as famílias do mundo inteiro.
Com isso, conceitos como honra e solidariedade perdem o significado diante da conveniência pessoal. Prospera um individualismo egoísta que, amparado pelo consumismo exacerbado, culmina no esvaziamento dos valores das relações interpessoais. A cultura do descartável cada vez mais se aplica, também, ao relacionamento entre homem e mulher, no relacionamento conjugal que alicerça uma família.
Estamos assistindo a uma crise na instituição familiar, nas suas relações, no próprio modelo de família, que é a primeira fonte de transmissão de valores. Não parecemos nos preocupar com isso, justificando, talvez, com a necessidade de evolução dos relacionamentos sociais, mas o fato é que isso certamente prejudica a transmissão de valores seguros aos filhos.
O fato é que temos sido incapazes de aceitar e enfrentar essa crise de valores, mas não nos conscientizamos que essa incapacidade, na realidade, está dentro de nós mesmos.
Entramos em uma roda-viva em que, para sobrevivermos nesse modelo atual de mundo, precisamos adotar um relacionamento de troca. O esforço para ganhar benefícios e sair na vantagem toma lugar do servir e do amor cristão.
Na geração de nossos pais e avós, o símbolo da realização era uma família estável e bem constituída. Hoje, é a posse de muitos bens materiais e objetos de consumo, de forma individual. A família tornou-se um estorvo.
O que esperar de nossos filhos, se não lhes transmitimos valores adequados?
Escolas e famílias se preocupam em dotar o jovem de informação e competitividade, cultivando o seu EGO, e não mais em formar os jovens.
O coração humano é feito para o amor. Entretanto, está sendo contaminado pelo individualismo e pela competição que nos levam cada vez mais à necessidade de “Ter” e “Mostrar”, e isso nos gera aflições e estados depressivos que nos suprimem a capacidade de aceitar o outro, de termos um relacionamento conjugal e social sadio, e até mesmo de nos relacionarmos em família.
Mas, com tudo isso, aonde entra, então, o Encontro Matrimonial Mundial?
O EMM é um movimento da Igreja Católica que, em suas características de ecumenismo, acolhe a casais e jovens, independentemente de sua fé, e a religiosos da Igreja Católica.
O relacionamento é o centro de seu carisma: a relação aberta, sincera e confiante entre os casais, entre eles e os sacerdotes, e entre estes e suas comunidades.
Entretanto, não é uma pílula mágica que, uma vez tomada, cura todos os males.
O EMM nos orienta e dá as ferramentas para que paremos, conscientemente, para investir nesses valores que estão em falta em nossa vida, seja individual, social ou conjugal.
Quando digo que orienta a nós, isso refere-se tanto aos casais e jovens, quanto aos religiosos. No EMM os sacerdotes são chamados a um novo patamar de relacionamento com a sua comunidade, humanizando-se e estando próximos dos casais e famílias.
Estas ferramentas se cristalizam em um método, que chamamos de Diálogo. Uma vez que tomemos a decisão de utilizá-lo, ocorre uma mudança significativa em nossa vida e nosso relacionamento. E, como não há efeito colateral, pode (e deve!) continuar sendo utilizado por toda a vida.
Aprendemos a utilizar o Diálogo como um método equilibrado e eficaz para apararmos as arestas que existem em todo e qualquer relacionamento, ao invés de deixar que aumentem e nos engulam.
Não se trata apenas de conversar. Afinal, quaisquer duas pessoas são capazes de conversar e discutir. O método do diálogo se apoia em valores tais como a escuta, a decisão de amar, a decisão de arriscar-se em seu relacionamento, a opção pelo perdão e pela cura, a aceitação do outro tal como é, a compreensão da individualidade…
Eu descobri o Diálogo, através do EMM, em 1992. E, com a graça de Deus, não me afastei mais. De lá para cá, são muitos anos de matrimônio harmonioso, que se traduziram em uma convivência familiar harmoniosa, da qual colhemos até hoje os seus frutos.
Aprendi que Deus nos faz diferentes não para que briguemos pelas nossas razões e convicções, mas para que sejamos um contraponto, um ao outro, para que, juntos, possamos alcançar objetivos maiores.
Aprendi, também, que para evoluir, como indivíduo, eu preciso deixar de me mostrar aos outros como desejo que me vejam, e permitir que me conheçam realmente como sou. E preciso aprender a servir e descer do meu pedestal de individualismo, por paradoxal que possa parecer.
Com isso, tive a bênção de ver meus dois filhos trilharem um caminho em que vivem plenamente esses valores que, cada vez mais, se distanciam do ser humano moderno, e a graça de poder envelhecer juntinho com a minha esposa Rosângela, primeira e única.
“Por isso, deixará o homem pai e mãe e se unirá à sua mulher; e os dois não serão senão uma só carne. Assim, já não são dois, mas uma só carne. Não separe, pois, o homem o que Deus uniu. (Marcos 10,7-9)”
Renato Borba Gallo
Casado com Rosangela, desde 1982
No EMM, desde 1992