O milagre compartilhado por Marcos no Evangelho de hoje, Mc 7,31-37, tem muito para nos ensinar.
Segundo D. Marcos Antônio Noronha: “Só serve de sinal aquele que caminha!” Jesus de Nazaré é um eloquente exemplo disso.
O hagiógrafo diz: “Jesus saiu de novo da região de Tiro, passou por Sidônia e continuou até o mar da Galileia, atravessando a região da Decápole” Mc 7,31. Quanto caminhar aparece nesse texto. Quanta desinstalação do Nazareno aparece no mesmo!
Esse caminhar, esse desinstalar-se, não se atém, exclusivamente, a um deslocamento físico. Jesus continuou esse processo desinstalador quando “Lhe trouxeram um homem surdo, que falava com dificuldade, e Lhe pediram que impusesse a mão sobre ele” Mc 7,32.
O Nazareno, mais uma vez, Se desinstalou, pois, “afastou-Se com o homem para fora da multidão. Em seguida, colocou os dedos nos seus ouvidos, cuspiu e, com a saliva, tocou a língua dele” Mc 7,33, e, “olhando para o céu, suspirou e disse: “Éfeta!”, que quer dizer “abre-te!” Mc 7,34.
Após esse ritual, “imediatamente, seus ouvidos se abriram, sua língua se soltou e ele começou a falar sem dificuldade” Mc 7,35.
O Nazareno, sempre enfocado no Projeto do Abá, que consiste em Vida Plena para todos, despreocupado com o ibope e o sensacionalismo, “recomendou com insistência, que não contassem a ninguém” Mc 7,36. Porém, “quanto mais Ele recomendava, mais eles divulgavam” Mc 7,36.
Facilmente, entendemos que “muito impressionados, diziam: Ele tem feito bem todas as coisas: Aos surdos faz ouvir e aos mudos falar!” Mc 7,37.
Essa vivência mostra como o que Isaías contemplou, de fato, se realizou em Jesus de Nazaré.
O Profeta anteviu: “Então se abrirão os olhos dos cegos e se descerrarão os ouvidos dos surdos” Is 35,5. Também, “o coxo saltará como um cervo e se desatará a língua dos mudos, assim como brotarão águas no deserto e jorrarão torrentes no ermo” Is 35,6.
Essa visão antecipada da realidade messiânica só pode acontecer porque Isaías cultivava o Silêncio Interior de Escuta, onde experimentava a intimidade com Deus. Na sua contemplação o futuro se fazia presente porque ele via o mesmo como já acontecido, pois, ele o enxergava com os olhos do próprio Javé.
Interessante é que Jesus, antes de curar o mudo, “colocou os Seus dedos nos seus ouvidos, cuspiu e, com a saliva, tocou a língua dele.” Quem sabe, por vezes, somos mudos no que se refere às coisas de Deus, porque nossos ouvidos não foram curados e libertos. Eles ainda não receberam o toque restaurador do divino.
Pe. Jacob, MSF.