Por mais que nos programemos, sempre surgirão surpresas. Com Jesus de Nazaré acontecia o mesmo.
Certa feita, “o Mestre retirou-Se para a região de Tiro e Sidônia” Mt 15,21.
O imprevisto surgiu: “Uma mulher cananeia, vindo daquela região, pôs-se a gritar: Senhor, filho de Davi, tem piedade de mim!”, e, podemos imaginar a sua aflição ao aduzir: “Minha filha está cruelmente atormentada por um demônio!” Mt 15,22.
Jesus deve ter enfrentado um terrível conflito. Ele, em Sua infinita sensibilidade e na Sua extrema compassibilidade, com certeza teria ajudado essa aflita mãe, na hora. Porém, em Sua luta interior, Ele Se conservou em respeitoso silêncio.
Foi a vez dos discípulos se manifestarem: “Aproximaram-se Dele e Lhe pediram: “Manda embora essa mulher, pois ela vem gritando atrás de nós” Mt 15,23.
Foi a vez de Jesus apresentar a razão de Seu silêncio e da Sua paciente espera: “Eu fui enviado somente às ovelhas perdidas da casa de Israel!” Mt 15,24.
Podemos imaginar a situação dessa sofrida mãe. Era mulher, era estrangeira. Como se não bastasse o risco a que se expunha, se não fosse suficiente a manifestação dos discípulos, ainda teve que escutar, da parte do Mestre, a justificativa para o que estava realizando.
Essa aflita mãe teria todas as razões para se retirar inconformada. Ela intercedera. Estava sendo deixada de lado por ser estrangeira.
Mesmo assim, “ela, aproximando-se, prostrou-se diante de Jesus e começou a implorar: Senhor, socorre-me!” Mt 15,25.
Podemos imaginar com que dor e sentimento de rejeição teve que escutar: “Não fica bem tirar o pão dos filhos para jogá-lo aos cachorrinhos!” Mt 15,26.
Podemos imaginar o sentimento do Mestre ao receber como resposta da insistente mãe: “É verdade, Senhor, mas os cachorrinhos também comem as migalhas que caem da mesa de seus donos!” Mt 15,27.
Vendo a humildade, a coragem para insistir, a confiança e a fé dessa mãe, “Jesus lhe disse: Mulher, grande é a tua fé! Seja feito como tu queres!” Mt 15,28.
Mais uma vez, em meio ao imprevisto, mesmo lutando contra as Suas convicções, o Mestre manifestou a Sua Misericórdia, pois, “desde aquele momento, sua filha ficou curada!” Mt 15,28. Esta vivência questiona as nossas atitudes e os nossos comportamentos frente às dificuldades. Sabemos pedir a ajuda do Senhor? Sabemos persistir ou desistimos no primeiro contratempo? Temos fé suficiente para dar a volta por cima, em meio aos imprevistos que povoam nosso dia a dia?
Pe. Jacob, MSF
